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"PONTOS CARDEAIS"

Não pude evitar… Roubei, mesmo, ao Diário de Notícias.
Mas valeu a pena.
FERNANDA CÂNCIOpor FERNANDA CÂNCIO

Na noite de 24 de Dezembro, a seguir ao telejornal da RTP1, surgiu no ecrã um dístico: “Mensagem de Natal de sua eminência reverendíssima o cardeal-patriarca de Lisboa.” Seguiu-se um monólogo de 8,38 minutos no qual o dito falou sobre “o direito de ser ateu” como novidade desagradável e saudou os crentes das religiões “de deus único” apelando à sua união: “Juntos havemos de contribuir para que Deus não seja excluído do nosso mundo e da nossa história.”

Ora bem. Tenho a ideia de que estas mensagens existem desde que há TV em Portugal. Ou seja, desde o tempo pré-1976 em que a Constituição não impunha a separação entre Estado e confissões religiosas e em que a Concordata assinada por Salazar equiparava padres a funcionários públicos. Mas nunca tinha reparado mesmo nelas – chama-se a isso aculturação. As caricaturas, porém, despertam-nos da letargia. E há poucas coisas mais caricatas que ver alguém a quem dão mais de oito minutos de prime time de borla (e deve ser baratinho, na noite de Natal) com o envelope de “mensagem à nação” que a lei prevê só para Presidente, primeiro-ministro e presidente do parlamento, a fazer propaganda religiosa enquanto clama “ai Jesus que os ateus me/nos querem calar”.

Vou repetir: na noite de 24 a RTP passou propaganda religiosa com a dignidade de uma comunicação de alta figura do Estado. É legal? Legítimo? Aceitável? Através da direcção de programas, a RTP responde: “Ilegal não é.” “Será discutível”, reconhece, mas sublinha: “É costume – a maioria dos portugueses são católicos, portanto.” Vejamos: a presidente do PSD fez uma mensagem vídeo de Natal. Passou onde? Nos telejornais, como notícia. Se o presidente do Benfica, que tem uns milhões de adeptos, quiser fazer uma mensagem antes de um derby, a RTP deixa? E o líder da comunidade muçulmana, pode “falar ao país”? Pois. E porquê? Porque a lei é clara: a propaganda política é proibida fora do tempo de antena, ao qual (que é proibido aos feriados) podem aceder organizações políticas, associações ambientais, desportivas, etc. – mas nunca religiosas; é exigido o pluralismo religioso na programação.

No entanto, a RTP acha, como o cardeal acha, que não há o menor perigo de alguém um dia dizer “acabou”. Do alto dos privilégios a que o concubinato entre o Estado e a sua organização o (e nos) habituou, o cardeal vitimiza-se para condicionar “o inimigo” e manter a reverência. Altura então de tirar da fama o proveito. Não querendo expulsar deuses de lado algum – como expulsar o que me não existe? – , impedir seja quem for de crer no que lhe aprouver ou, como já vi escrito (o ridículo não conhece limite), “abolir o Natal”, exijo dispensa de que me tentem converter ou insultar através dos meios de comunicação social do Estado. Chega de pagode: quero o país que a Constituição me garante, laico e sem eminências. Esperei 34 anos. Já pode ser?

O NOVO SANTO PORTUGUÊS

Refinadamente retirado do “Diário Ateísta”.

Um artigo de Moisés Espírito Santo no «Jornal de Leiria»:

Falo de Nun’Alvares.

Até há pouco, as mulheres ameaçavam os miúdos com «Olha que eu chamo o Dom Nuno!». Um papão.

Os portugueses só o conhecem porque ele derrotou os espanhóis. Em Aljubarrota foram 36.000, para além dos 7 de que se encarregou a padeira.

Invocou Santa Maria – que só será Mãe dos portugueses e não dos espanhóis – venceu. Esta mitologia merece tanto crédito como as lendas de feiticeiras; o problema é que, repetida hoje, significa estagnação cultural. Ideologia rústica fora do tempo.

O povo vai venerar um santo só porque ele derrotou os espanhóis. (Ficamos à espera que seja canonizado o régulo Gungunhana que se sacrificou pela independência da sua pátria, Moçambique…).

O Dicionário de História de Portugal, de Joel Serrão, lemos isto: «[Nun’Alvares] exigia sempre uma disciplina rigorosa e o exacto cumprimento das suas ordens; se isso não sucedia tornava-se bravo como um leão, chegando a matar os cavalos e a ferir os corpos dos descuidados, se eram pessoas de mais pequena condição».

Entenderam: «se eram pessoas de mais baixa condição».

Cavaco Silva, ao integrar a comissão de honra da canonização, disse que «pode ser um exemplo para os portugueses». Eu diria que exemplos desses já temos de sobra: uma Justiça que condena os pobres e absolve os ricos; os trabalhadores pagam impostos enquanto os políticos e suas famílias acumulam milhões com a corrupção, os banqueiros a apropriarem-se dos dinheiros dos clientes…

Preferia ver o responsável máximo da Nação – que, hoje, é amiga de Espanha – a abster-se desses conluios patriotiqueiros e a apontar os espanhóis como exemplo de civismo, criatividade e empreendedorismo.

Não foi pelas qualidades guerreiras do Condestável que o Vaticano o canonizou. Seria porque, já velho e impotente, se recolheu a um convento onde viveu 8 anos ? (Diz o ditado: «O diabo depois de velho fez-se ermitão»).

Não consta que tivesse dado as suas riquezas aos pobres, como se diz agora. Que se dedicasse a tarefas conventuais, milhões de frades o fizeram.

No entanto, o mesmo historiador que citei diz: «Por baixo do hábito de frade, Nun’ Álvares trazia por vezes vestido o seu arnez de combatente».

Estão a ver? Um belicoso disfarçado de frade.

Foi pelo milagre do salpico de azeite quente que saltou para a vista duma mulher de Ourém e que não a cegou?

Porque foi? E porque só agora? Política vaticana.

A beatificação, em 1918, visou combater as Repúblicas portuguesa e espanhola, liberais. Depois o processo foi p’ra gaveta, por cumplicidade com os fascismos ibéricos.

Agora, como o Condestável foi anti-espanhol, saiu dos arquivos para a actual guerrilha entre a Espanha e o Vaticano (este já não tem mão duma nação que foi a mais católica do Globo).

Primeiro foi a lei sobre o aborto. Depois, o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo que levou os bispos espanhóis a saírem à rua em manifestação (coisa nunca vista – para combater uma lei democrática).

Bento XVI até veio a Espanha apoiar os bispos num congresso em favor da «família tradicional».

Hoje há o problema das aulas de Religião e Moral que o governo substituiu por Educação Cívica, e o programa da Memória Histórica sobre a guerra civil a que a Igreja – que foi co-responsável nessa guerra – se opõe («para não abrir feridas», diz ela).

Se isto fosse em países como Inglaterra, Alemanha ou França, laicos ou protestantes de longa data, passons como dizem os franceses.

Vindo de Espanha que foi a católica por excelência, no pasaran como diriam os bispos espanhóis. E passaram.

Então… «Tomem lá com o Condestável português que vos derrotou!» (Sendo eles como são, faz-lhes tanta mossa como mostrar-lhes um espantalho).

Esta canonização é a reprodução da de Santa Joana d’Arc, rapariga francesa que derrotou os ingleses invasores da França, em Orléans (1429); mas foi entregue traiçoeiramente aos ingleses que a condenaram à fogueira por heresia (1431).

Só foi beatificada em 1909 e canonizada em 1920, uma época de fundamentalismo católico… contra a Inglaterra protestante.

E, com este costume medieval de inventar santos e de os pôr a fazer política, é a imagem do Vaticano que fica muito aquém das culturas da modernidade.

ELE VAI SER SANTO!!!

Joseph Ratzinger, o B16 para os amigos, prepara-se para mandar João Paulo dois ou JP2, para a lista dos santos. Entre outras virtudes do futuro santo, que são inúmeras, contam-se a profunda amizade para com o sanguinário ditador Pinochet.

NÃO SE CONVENCEM?

A Constituição da República Portuguesa diz claramente que a Igreja está separada do Estado – por muitos engulhos que isso possa fazer quer ao Sr. Aníbal Cavaco Silva quer ao actual presidente da República. Eu admito que aprendi a ler há muitos anos e que posso estar um bocado esquecido; mas se bem me lembro, isso quer dizer, em português decente e escorreito, “cada macaco no seu galho”.
Ou seja, tipo “não te metas na minha vida, que eu não me meto na tua”.
Mas a Igreja não se convence. E vai daí, toca a meter o bedelho eu tudo o que não lhe diga respeito. Faz-me lembrar aqueles tipos baixinhos que se colocam em bicos de pés, para serem vistos, ou aqueles parolos que, às vezes, aparecem na televisão com os letreiros “mãe, estou aqui”.
Concorde-se ou não, o Governo pretende legalizar, pelo casamento, as uniões de facto entre pessoas do mesmo sexo. Para quem ainda não percebeu, e parece que a turba sotainada demora a perceber, o Governo quer permitir casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Sim, eu escrevi casamento civil, porque não me passa pela cabeça que o Governo vá exigir casamento religioso. Era absurdo e completamente estúpido. Tão absurdo e tão estúpido como a Igreja querer forçar o referendo às intenções do Governo. Pela simples razão de que a democracia, palavra que os senhores clérigos desconhecem, implica reciprocidade. E não me recordo de o Governo ter querido referendar a canonização do guerreiro Nuno Álvares Pereira, oportuna e escandalosamente transformado em oftalmologista pela ICAR, por ter curado o olho esquerdo da D. Guilhermina de Jesus, que se queimou com um salpico de azeite ao fritar peixe.
Que a Igreja queira proibir os casamentos religiosos entre pessoas do mesmo sexo, é um direito que legitimamente lhe assiste. Tal como como é legítimo o direito de o Governo português pretender legalizar contratualmente (há quem lhe chame casamento) essa mesma união.
Haja decoro, se faz favor.
Foto: Diário de Notícias

ESPANHA E O ABORTO

A Igreja espanhola e alguns sectores mais conservadores promoveram, em Espanha, uma manifestação contra o aborto. Julgo que em Espanha, tal como em Portugal, existe o direito de manifestação, o que é bonito. Mas a verdade é que o tipo de entidade patrocinadora que, aliás, nem se fez representar, escondendo-se cobardemente, e o objecto da manifestação obrigam-se a reflectir profundamente.
É o que vou fazer, e seja o que deus quiser.
Nas sociedades mais a ocidente, e isto é um mero exemplo, existem, normalmente, dois tipos de leis: as divinas e as humanas, sendo que as humanas são, na maior parte das vezes, plágios foleiros das leis divinas que, como toda a gente sabe, são perfeitas – ou não fossem elas divinas. Ora, um católico que se preze ante de cumprir as leis humanas deve cumprir as leis divinas. Ou seja: deve estar-se, positivamente, borrifando para as leis humanas, porque as divinas é que é. Ou seja, outra vez, não precisa das leis humanas para nada.
A ICAR sabe, ou devia saber, disso. Qualquer aprendiz de padre sabe que uma católica:

  1. Não tem sexo antes do casamento.
  2. Não tem sexo fora do casamento.
  3. Não tem sexo em período fértil, a menos que deseje ter um filho que o Senhor se dignar conceder-lhe.
  4. Não pratica o abominável aborto. Pelo que não se compreendem as pias preocupações.

Ora, sendo assim, essas manifestações mais não são do que exercícios de folclore patético, porquanto:

  1. As mulheres católicas não praticam o aborto, e eu sou o coelhinho da Páscoa
  2. Os ateus estão-se borrifando para essas manifs.

Finalmente, e se uma vez por todas, senhores padres e companhia: NINGUÉM É OBRIGADO A ABORTAR. Aborta só quem quer e, como acima vimos, as católicas não querem.
Ou será que a ICAR está a aperceber-se de que nem as católicas ligam às ordens dos padres, e eles ainda não viram que é melhor mudar de profissão, que esta está cada vez mais pelas ruas da amargura?

FÁTIMA EM LAY-OFF?

Acho que a ICAR não está a acompanhar os “sinais dos tempos”…

Qualquer empresa que se preze mantém as suas actividades de forma ininterrupta ao longo do ano. Ora, a empresa “Fátima SARL” inicia a sua temporada em Maio, ainda por cima a meio do mês, e termina-a com as promoções de Outubro. Não sei porquê, faz-me lembrar as épocas taurinas, que deus me perdoe. Eu sei que a senhora também precisa de algum descanso porque durante esses cerca de cinco meses a sua actividade deve ser intensa, ele é pedidos, vulgo cunhas, ele é o conferir o cumprimento das promessas, sim, que isto de fazer promessas e não as cumprir não é para todos, só os políticos estão autorizados, ele é o cheiro a cera queimada, que sempre deve incomodar um bocadinho, aliás basta ler a Bíblia para se constatar que naquelas bandas se aprecia mais o cheiro do churrasco, e se clhar é por isso que o negócio fatímico entra em “lay-off”. Mas também me parece que cinco meses é pouco, mesmo que o dinheiro seja muito, mas a verdade é que não me consta que a senhora veja um tusto do dinheiro que cai na empresa. Também é verdade que durante esses meses as condições atmosféricas sempre são mais favoráveis, o que é bom, porque as altas esferas da religião, e refiro-me à senhora e excelso marido ou, pelo menos, pai da criança, ainda não teve poder para arranjar um micro-clima para aquela região, assim do género “sol na eira e chuva no nabal”. Tudo bem, o tipo é todo-poderoso, mas também acho que mesmo isso tem limites, pronto, não se pode poder tudo.

De qualquer modo, quam não aproveitou as últimas promoções de Outono, já fica a saber que só lá para Maio de 2010 é que há mais. Desta vez, com o presidente do censelho de administração e tudo, que sempre se dignou visitar a loja.

Daí que eu era capaz de propor um alargamento da época que podia, perfeitamente, começar no Equinócio da Primavera, mesmo que acabasse em Outubro, na mesma, para as pessoas não andarem à chuva, que isso de milagres não tem nada a ver com a meteorologia.

O pior é se eu proponho e os gajos aceitam.

O melhor é estar calado…

AS PROMOÇÕES

Fátima: Trânsito reduzido nos acessos à Cova da Iria a seis horas do início da peregrinação de Outubro –
Comentário:
A ICAR lança as promoções de fim de época. Para o ano há mais.

O ACIDENTE

É grave, e dá que pensar, o facto de umas pessoas que iam em passeio a Fátima terem sido vítimas de brutal acidente que ceifou algumas vidas. Dá que pensar que tipo de protecção, afinal, se pode esperar do “todo-poderoso”, ou das entidades divinas. Afinal, não iam para a taberna, iam a Fátima. E a Fátima não se vai por diversão, vai-se por devoção. vai-se para “falar com Deus”, por intercessão de Sua Santa Mãe, a Virgem Maria. Será que Deus não quis conversa?
Também é grave a constatação de que o passeio a Fátima (peregrinação, ou divertimento?) tenha sido organizado pela Câmara de Baião. Bem sei que estamos em época de eleições, e que vale tudo menos arrancar olhos. Mas não me parece correcto utilizar o dinheiro dos contribuintes para organizar excursões e, muito menos, de carácter religioso – seja qual for a religião.
Quando é que veremos, finalmente, a religião separada da política?
Finalmente, os meus sentimentos e a minha solidariedade para com os familiares das vítimas mortais, e os desejos de melhoras rápidas aos feridos.

A BEATA INTRANQUILIDADE

Leio, nos jornais, que os bispos portugueses se congratularam pelo facto de o presidente da República ter vetado a lei que iria dar mais direitos aos que optassem pela união de facto em detrimento do casamento.

Desde logo, parece-me que os bispos estão a fazer confusões terríveis.
Em primeiro lugar, não acho que os bispos, seja de que religião forem, tenham que meter o bedelho nas leis da sociedade secular; da mesma forma que a sociedade secular não mete o bedelho nas encíclicas. Questão de decência, apenas. E de respeito – embora eu duvide de que os bispos saibam o que é isso.
Depois, parece que ainda se julgam num estado teocrático, como nos tempos salazarentos. Na verdade, casamento não tem nada a ver com a Igreja. Há muito tempo, para que saibam. As pessoas podem, agora, casar sem terem de levar com água-benta nas trombas. Pelo civil, não sei se estão a ver.
Que os bispos se alegrem por o presidente da República não consentir uniões de facto religiosas, eu aplaudo. Era muito chato a gente assistir a cerimónias em que o padre dissesse eu vos declaro unidos de facto em vez do sacramental eu vos declaro marido e mulher. Mas não é disso que se trata. O casamento arcaico e troglodita está em vias de extinção, e os bispos ainda não viram isso. Ou viram e estão a lutar para que assim não seja.
Depois, apresentam o argumento bafiento da família como pilar da sociedade… E quem garante – para além dos pios senhores – que para haver família tem de haver casamento? Se o meu pai não for casado com a minha mãe, os outros filhos deixam de ser meus irmãos? Deixam de ser da família? Não há família?
Para quando a limpeza às religiosas teias de aranha?

QUE MILAGRE(S) PODEREMOS ESPERAR?

Dizem, nos “mentideros” que o Papa caiu e fracturou um pulso.
É preciso analisar friamente a situação:

  1. O Papa é o representante de Deus na Terra.
  2. Para isso, foi eleito pelos que eram seus pares, devidamente inspirados pelo Espírito Santo – seja lá isso o que for.
  3. O Espírito Santo é Deus uno e trino e mainunseiquê.
  4. Era suposto o Papa estar protegido, pela Santíssima Trindade, de todos os males do mundo.
  5. Isto porque, em teoria, Deus tem mais que fazer do que estar a promover eleições atrás de eleições. Deus não é a Comissão Nacional de Eleições, para que conste.
  6. Verifica-se que, apesar de todos os pressupostos enumerados acima, o Papa não está protegido.
  7. O que me parece injusto – mas eu sou suspeito – já que não hesitou nem um bocadinho em curar o olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus.
  8. Mas não evitou que o seu empregado predilecto caísse e fracturasse um pulso.
  9. Mais grave ainda: o Papa foi transportado ao hospital. Deus cura o olho, mas não cura o pulso.
  10. Como se não bastasse, o pulso fracturado foi o direito, ou seja: o das benzeduras.
  11. O que me leva a perguntar: se o Papa não está protegido, quem o estará?